segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Ainda sobre Flores Amarelas


Gosto dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal – abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está prá chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante 
exaltação do cio. “-Rubem Alves

Num domingo desses, retornando do almoço na casa dos meus pais, tomamos um caminho diferente do que de costume. Quando dei por mim, estávamos “levando nossos olhos para passear”. Quanto encantamento! A cada esquina dobrada suspiros e interjeições de contentamento. O bairro onde moramos estava com suas ruas vestidas de amarelo pela florada dos ipês. Passeamos por longos minutos contemplando os galhos iluminados das árvores. Iluminadas também estavam as calçadas. Iluminado também ficou o nosso olhar.

Ah...as Flores amarelas! Elas marcaram meu ano... "Sementes de flores amarelas” espalhadas por toda rede municipal de ensino...Centros de Educação Infantil, Escolas, Penitenciária e Centros de Recuperação... Difícil quem me conheça e ainda não tenha me ouvido contar a “Última Flor Amarela”. Passei a relacionar a florzinha teimosa descrita por Caulos em seu livro, com atitudes entusiastas e de esperança que ainda podemos encontrar.  No sentido figurado, desenhado por mim...uma certa flor amarela nos habita, ora murcha e machucada, ora mais amarela do que nunca...e perfumada!
Sim, muitos são os “jardineiros"... e tantas as flores amarelas.

Flores Amarelas da preservação, encontradas na Índia, onde o tribunal de Nova Deli, decidiu que pássaros têm direito de viver com dignidade fora de gaiolas, voando livremente. Decidindo assim, que a comercialização de pássaros em gaiolas é uma violação dos seus direitos.

Flores Amarelas de zelo e esperança, cultivadas através do trabalho da Doutora Ana Cláudia Quintana Arantes, médica geriatra de São Paulo, que prescreve POESIA na lida diária com a morte. Uma incrível experiência profissional e afetiva com pacientes terminais. "O estado de amorosidade do ser humano deveria se tornar algo como a temperatura ou o pH do sangue: perene, necessário ao bom funcionamento de todos os nossos sistemas, internos e externos," diz ela.

Linda e perfumada, a Flor Amarela entusiasta da professora Mariana Coral, que teve o trabalho reconhecido nacionalmente por estimular as crianças (bebês!) de um Centro de Educação Infantil de Joinville para o processo de ensino e aprendizagem a partir dos elementos da natureza.


Flores amarelas dentro e fora de nós... Precisam de adubação contínua.
Existe sim, um jeito de adocicar a aridez com afeto. E eu fico olhando os ipês em flor, o brilho nos olhos das crianças, iniciativas que inspiram, que até esqueço as notícias do mundo que é tão vasto, mas insistem em dar um foco extremo no que há de trágico nele.

Há de se alimentar o olhar e a esperança com sementes, e flores e poesia. Ficamos assim, mais ricos interiormente. E, ficando mais ricos, podemos sentir mais alegria e dar mais alegria. 
Um belo sentido para a existência. 
Cultivemos e contemplemos nossas flores amarelas...
"Quando a gente abre olhos, abre-se as janelas do corpo e o mundo aparece refletido dentro da gente"- Quem ensina é o Mestre, que teve suas cinzas depositadas aos pés de um ipê amarelo.




Para Jura Arruda, sensibilidade admirável.
Para Marisa Toledo, por adubar a "minha flor' com toques positivos.




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