terça-feira, 24 de maio de 2016

CASAMENTO



Conheci "Casamento" de Adélia Prado, já faz um bom tempo...
Porém, o vi ilustrado pelo relato da minha amada Ciça, lembrando dos seus pais, assim juntinhos...limpando os peixes.

"Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva."


segunda-feira, 28 de março de 2016

Quando as palavras te despem...

A Moça Tecelã
Por Marina Colasanti


Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos  do algodão  mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Para Maurício...Que enxergou na minha história, fios desta.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Bom Dia, com Amor!


Escrevi você dentro da minha ESPERANÇA mais pura.

E TE ESPEREI na noite inaugurada de uma final de semana cultivado. 

Sei que precisava estar pronta enquanto o seu ser se preparava para a CORAGEM porque nós é que sabemos dos nossos longos voos e da intensidade de cada mergulho. 
Escrevi nossa história em páginas de AMOR resignificado. Reaproveitamos o passado até deixá-lo ir: ficamos com o aprendizado. Guardei todo o espaço em branco para que escrevêssemos  juntos. Inteiros. Precisos na carícia arrendondada de cada frase e da nossa nova fase. Inconsequentes?, Coesos! Pacientes, mas ENTUSIASMADOS. E, hoje sabemos que, assim juntinhos, teremos todas as licenças poéticas para fluir lado a lado. 

Te RECEBO, ACEITO e AGRADEÇO...

Você foi e continua sendo a melhor notícia que eu "leio" a cada manhã.



 :o)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Sou!



Vou pela VIDA 
Assim...desinibida
Carregando flor,
Sou meio Frida
Meio Cecília
Meio Amélia
Meio Ofélia 
Meio Mona
Meio dona
Meio princesa
Meio Tereza
Meio fera 
Meio donzela

E toda AMOR!




Mandingas

Das "mandingas" que mais gosto...
Colher PALAVRAS e cultivar ERVAS!
Emoticon heart
Benzer também é fazer poesia.
É um jeito de tocar alguém e ungi-lo de um belo e perfumado poema,
em forma de reza.
Ser poeta é ter o dom de colocar no movimento das palavras, tudo o que há de mais belo no ser humano.
Benzer é tornar-se tudo o que há de mais belo,
para poetizar a alma do outro.
É contemplar a beleza em seu olhar e agradecer!
É encontrar o canto em se falar, e agradecer!
É sentir a amorosidade em seu coração e agradecer!
Benzer não é pedir.
Benzer é agradecer!
Benzer é poetizar a angústia e transmutá-la em beija-flor.
Benzer é rimar a dor e transformá-la em flor!
Toda benzedeira é poeta!
Poeta da cura.
Poeta da alma.
Poeta da Ciranda de Gaia...
Poeta da batida no tambor.
Poeta das ervas!
Poeta do caldeirão!
Toda poetiza é benzedeira.
Benzedeira do olhar.
Benzedeira das palavras.
Benzedeira que tece com lápis e papel, a alma e o coração dos que precisam de rezo e pão!
(Porque..."nem toda feiticeira é corcunda"!! ha ha)

Para Celina Maria, minha "tia do coração" por me mostrar a alquimia perfeita do Bem Querer.