quinta-feira, 26 de junho de 2014

A PIPA

PIPA NO CÉU

“Como seria bom, se as outras pessoas fossem vazias como o céu, e não tão cheias de palavras, de ordens, de certezas. Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas.” –Rubem Alves

Manhã de Primavera... céu azul, grama verdinha, brisa gostosa ventilando as brincadeiras de um recreio animado.
No meio do azul do céu, um pontinho branco chama a atenção dos meninos... Uma pipa alçava um voo tão distante, que era impossível imaginar de onde partira.
Ivan, menino tímido, observava a tudo com atenção, seus olhos brilhavam em sinal de uma euforia contida. Fora transferido para a escola, há algumas semanas carregando alguns rótulos... repetência, déficit de atenção e baixo rendimento.
Acanhado, cabeça baixa. Ivan toma coragem e arrisca uma confissão: “Eu sei fazer pipa...”
Precisei aproveitar a abertura que aquele comentário me dava, para tentar uma aproximação afetiva: “Uma das minhas frustrações infantis, é que nunca consegui empinar uma pipa. Elas nunca passavam da minha altura.”
Minha experiência frustrada como “empinadora de pipas”, arrancou uma risada gostosa em Ivan...
Era possível até interpretar aquela risada: “Eu sei fazer algo, que a diretora da Escola não sabe!”
Adquirindo uma nova postura, Ivan me pede: “ Se eu fizer uma pipa... Posso trazer para te mostrar?”
“Claro que sim! Podes empinar a sua pipa também...”
“Aqui??” Ivan mal podia acreditar.
Afirmei positivamente, devolvendo o sorriso.
Soube que meu “pequeno artesão” aproveitou a sua tarde inteirinha se esmerando na tarefa assumida por ele.
A pipa ficou linda! Pedaços colados de papel de seda formavam um mosaico multicolorido.
Nada porém, era tão lindo quanto o sorriso de satisfação exibido por Ivan...
O céu parecia estar ainda mais azul...
No intervalo entre as aulas, cercado pelos colegas, o menino expõe sua habilidade, despertando exclamações de admiração.
A pipa subiu majestosa! Ivan mais parecia um maestro regendo os movimentos do brinquedo. O aplauso foi espontâneo.
O pontinho colorido no azul do céu, levou consigo, toda a linha do grande rolo empunhado.
Surpresa... seguida de emoção!
Ivan estava prestes a perder a sua pipa... bastaria deixar a ponta da linha escapar de sua mão.
Quando o adverti sobre esta possibilidade... confidenciou-me com certa cumplicidade (soltando a pontinha da linha, que ainda mantinha presa entre os dedos): “Quando isso acontece...ela já não nos pertence. Dou um nome a pipa...que só eu sei. É um batismo. E deixo que vá...”

Naquele momento...e dali por diante, a Escola foi o céu daquele menino...Lugar onde ele poderia fazer voar suas fantasias, a alegria e a liberdade de SER CRIANÇA.
-Silvane Silva.

Imagem poética de Silvia Silva.

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